Beja

As nuvens podem não ter ajudado. Achei Beja uma cidade triste e feia. Era manhã de Sábado, manhãs que recordo festivas com um certo ar de arraial sarraceno, e esta era uma manhã acabrunhada, sem gente e com uma chuva tão mole que nos fazia ter pena de nós próprios. Prédios iguais aos de tantos subúrbios, com as suas pastelarias falsamente acolhedoras, simulacros ridículos de salões de chá sumptuosos, onde se comem torradas, meias de leite e chás de camomila com aquele vagar de burguesia em que assoma uma reminiscência de aristocracia velha mas não é mais do que pardacento funcionalismo público, rotundas exageradamente decoradas com obras que fulminam o olhar e o espírito do visitante, como se no meio da selva um arranha-céus irrompesse, lojas chinesas com o seu caos de bazar asiático onde tudo se encontra, universo infindável de bugigangas e inutilidades à medida das nossas magras carteiras, bombas de gasolina esquálidas onde ainda subsistem os empregados de calças manchadas. Nesta cidade até a imponente estátua de D. Leonor, esverdeada pelo tempo e pelo desmazelo, parecia triste e deslocada, como se em vez de exibir os dons que lhe deram direito à eternidade da pedra a pobre Rainha confessasse o seu desespero por não poder sair dali. Foi destarte que vi Beja. Mas a culpa pode ter sido do tempo e das nuvens.

publicado por Bruno Vieira Amaral às 10:07
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