Union Atlantic

Celebrado como “o primeiro grande romance do novo século”, Union Atlantic padece da obsessão em não falhar nenhum dos grandes temas da América contemporânea: 11 de Setembro, guerra do Iraque, terrorismo e crise financeira. Se a história não terminasse em 2002 teríamos a eleição de Obama, a reforma da saúde e a morte de Bin Laden. Mas não é por tocar em todas as bandeirinhas sem perder o equilíbrio narrativo, como um esquiador habilidoso num slalom gigante, que Adam Haslett capta o zeitgeist. Algumas das soluções são mesmo forçadas, como a escolha da festa do 4 de Julho para momento central do romance e que termina, previsivelmente, num pequeno apocalipse. A esta metáfora, desajeitada de tão óbvia, juntam-se pecadilhos como o excesso de minúcia sobre o funcionamento dos mercados e do sistema bancário que tem o duplo defeito de não surpreender os especialistas e de aborrecer os leigos. A dada altura, o romance parece-se com uma das personagens, capaz de reter imensa informação histórica, mas com grandes dificuldades “em organizar a sua própria vida.”

 

Também a construção das personagens obedece a um simbolismo esquemático que pode ser dividido em três blocos: a velha guarda, representada pelos irmãos Charlotte e Henry Graves, os tubarões hedonistas da finança (Doug Fanning, Jeffrey Holland e Paul McTeague) e a juventude anestesiada por doses excessivas de relativismo e de erva (Nate). No entanto, o instinto de Adam Haslett leva-o a acertar no diagnóstico final, como um médico incapaz de analisar exames mas competente a detectar doenças através de uma simples observação do paciente. E o mal do nosso tempo é a implosão da “arquitectura invisível da confiança” em que assenta o nosso modo de vida. A confiança que é a pedra fundamental no sistema bancário, nas instituições políticas e nas relações pessoais e familiares. O mundo de Charlotte e de Henry, o mundo estabelecido sobre regras sólidas e valores perenes, está ameaçado pela cultura de ostentação e desperdício personificada por Doug Fanning. Entre estas duas margens, a geração de Nate flutua sem destino.

 

Apesar do hiper-realismo e da excelente construção narrativa, Union Atlantic sofre da ânsia de querer explicar uma época, como se o verdadeiro destinatário do romance não fosse o leitor de hoje, mas um hipotético leitor do futuro mais interessado em História do que em romances.

publicado por Bruno Vieira Amaral às 12:23
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